sexta-feira, 18 de março de 2011

Cemitério


A avenida Firmino Maia em 1912: sem bares, só matagal. Ao alto, o cemitério (seta)

Cemitério

De início não havia cemitério na cidade, sendo os mortos enterrados na Matriz, na igrejinha do Rosário e nos arredores da atual praça Apolinário Rebelo.
O gradativo aumento da população e a ocorrência da terrível epidemia de cólera em 1856, causando inúmeras mortes entre os munícipes, tornaram evidente a necessidade da construção de um cemitério, o que foi feito de forma provisória ao final da rua do Joazeiro (atual Frederico Maia), erguendo-se um de paliçada onde hoje funciona o Grupo Escolar 13 de Outubro.

A construção do atual e definitivo cemitério de Viçosa deu-se em 1890, com a vinda do frei Cassiano de Camachio, capuchino do convento da Penha no Recife, convidado que foi pelo vigário Loureiro para aqui missionar e erigir o cemitério.

Com a notícia das missões começou o povo a afluir não só do município de Viçosa, bem como dos municípios limítrofes. Para erigir o cemitério no alto do morro onde se acha hoje instalado, e em menos de quarenta dias, frei Cassiano utilizou-se de um hábil estratagema: recomendou aos fiéis que expiassem suas culpas e pecados, não com padre-nossos e ave-marias, mas transportando pesadas pedras através da íngreme ladeira que separava a parte baixa da cidade do ápice do morro em que desejava instaurar a nova “mansão dos mortos”.

O historiador Alfredo Brandão, em seu livro Viçosa de Alagoas, editado no Recife em 1914, nos informa a respeito: “Recordo-me que numa tarde eu e meu pai nos dirigíamos para a Viçosa. Quando chegamos no alto da Ladeira Vermelha, onde toda a vila se descortina, paramos extasiados, como se tivéssemos diante de nós algum Cosmorama oriental: uma compacta multidão movediça, enchendo a praça e as ruas, formava um longo cordão que subindo o monte pelo lado da (antiga) cadeia, ia até o cume onde se estava construindo o cemitério. O sol poente, batendo em cheio nesse formigueiro humano, fazia ressaltar as variegadas cores dos trajes e dava a todo o conjunto, visto assim de longe, um aspecto quase fantástico. Através das ruas mal se podia marchar, tal era a quantidade de gente que fervilhava, conduzindo pedras, cal, barro e areia para o cemitério. Nesse mister empregavam-se não só os homens válidos, como também os velhos, as mulheres e as crianças, cada um na quantidade de suas forças”.

Quem já teve a pesada incumbência de transportar um defunto da parte baixa da cidade para o alto do morro do cemitério, deve reter bem em sua memória o quanto isto o debilitou. Quem agora teve a ofertada possibilidade de conhecer a história da construção do atual cemitério de Viçosa, que guarde bem em sua memória do quanto é capaz a esperteza dos freis Camachios e a ingenuidade dos beatos.

Por Sidney Wanderley.

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