domingo, 7 de novembro de 2021

Novo ensino médio deve ser implantado de forma gradativa a partir de 2022 em AL

O novo ensino médio começa a ser implantado em 2022 nas escolas públicas e privadas de todo país. O projeto prevê aumento da carga horária diária e que cinco Itinerários Formativos sejam ofertados para que possibilitem ao estudante aprofundar seus conhecimentos em uma das áreas para formação técnica e profissional.

Ao Cada Minuto, a Secretaria de Estado da Educação de Alagoas (Seduc) explica que, no estado, o projeto de implementação das mudanças funcionará de forma gradativa. Em 2022, apenas o 1º ano do ensino médio irá desenvolver o chamado “projeto de vida” e os componentes curriculares eletivos. Na sequência, em 2023 e 2024, outras mudanças acontecerão em função do desenvolvimento dos itinerários formativos propostos.

Para a Seduc, a implementação do novo ensino médio é uma oportunidade de refletir e proporcionar a melhor oferta de educação para os estudantes das juventudes de Alagoas. Além disso, representa uma oportunidade para planejar e operacionalizar as competências gerais da a Base Nacional Comum Curricular a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), bem como os modelos de itinerários formativos nas escolas estaduais e privadas.

O órgão explica que, o projeto gradativo de implementação do Novo Ensino Médio, será introduzido no estado, a partir da implantação do Referencial Curricular de Alagoas  - ReCAL, com oferta do projeto de vida, componentes curriculares eletivos, itinerários formativos e desenvolvimento de competências e habilidades, que fazem parte da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

“Estamos com o documento estadual, o ReCAL, no Conselho Estadual de Educação de Alagoas - CEE/AL, que já está analisando e editando uma resolução estadual. Portanto, as perspectivas abrem possibilidade para um projeto inovador e com mais sentido para as juventudes do ensino médio de Alagoas”, destaca a Seduc.

Mudanças representam desafios

Segundo o professor de ensino médio, Deividy Carlos, as mudanças representam um desafio, mesmo que tenham sido sinalizadas desde 2017. “Principalmente depois do que aconteceu ano passado. É importante deixar claro que, para nós professores, houve uma adaptação às novas condições de uso de tecnologias para dar aula, foi um desafio e a gente superou. Agora surge um novo desafio que também vamos superar”.

Na opinião do professor, as mudanças podem ser positivas, pois estão ligadas a uma situação de possibilidades e novos horizontes. “Tem um autor português, que diz assim ‘nós estamos no modelo de escola do Século 19, com professores do Século 20 e alunos do Século 21’. Então a nossa grade, a forma como a aula é transmitida hoje, boa parte das vezes não se torna mais atrativo para o aluno”.

Ele diz que há formas, métodos e explicações mais atrativas nas mídias digitais e em plataformas, como o YouTube, que se tornam mais interessantes para o aluno. “Eu acho que, dentre os pontos positivos, é introduzir novas formas de ensinar nas disciplinas”.

“Se você fizer uma breve pergunta para um aluno, questionando se ele tem mais interesse em estudar espelhos côncavos e organelas citoplasmáticas ou matemática e educação financeira, ele vai dizer que tem mais interesse em ter aula de educação financeira. Ele vai querer ter mais aulas sobre primeiros socorros ou culinária básica. Até assuntos da minha disciplina, como pensadores do passado, que não são tão interessantes, como disciplinas do ‘dia a dia’”, afirma Deividy.

Questionado sobre os possíveis pontos negativos do novo programa, ele acredita que a falta de estrutura e de formação profissional de muitos educadores são os principais. “Estou dentro de uma realidade de sala de aula em uma escola privada, em que haverá toda uma estrutura para o aluno e para o professor, mas dentro de um universo que é a educação pública no Brasil, no estado de Alagoas, não sei se haverá todo esse suporte”.

O professor explica que os sistemas de ensino estão fornecendo cursos de formação para aprender como adequar sua vivência e aplicar junto ao aluno. “A ideia do novo ensino médio é que o aluno seja protagonista do desenvolvimento. Para que ele traga uma experiência diária para a gente discutir em sala, e que, talvez, nessa troca, outros colegas também se identifiquem”.

Ele acredita que, mesmo com o novo currículo do ensino médio, a barreira da valorização do profissional ainda permanecerá. “Em Alagoas, se você compara com 10 anos atrás, estamos crescendo em vários aspectos sociais, isso é uma realidade, mas o da educação, especialmente, ainda está sendo um entrave muito grande para o desenvolvimento”.

O professor de história do ensino médio, Moacir Gama, explica que foi estabelecido um acordo entre o Ministério da Educação (MEC) do Brasil e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para reformar o ensino brasileiro com prioridade na formação técnica básica para que as pessoas conseguissem trabalho nas indústrias. Com o investimento no ensino técnico, alguns cursos de formação política chegaram a fechar devido ao baixo investimento.

“Historicamente não deu certo, perdemos duas gerações no que se refere ao intelectualismo, produção científica, financiamento de pesquisa, análise documental e criticidade. Esse  novo ensino médio vem exatamente para retornar o projeto tecnicista, não um perfil tão batido quanto no passado, mas é uma ideia parecida”, explica.

Ele pondera que o novo ensino médio trabalha com disciplinas que são chamadas de “disciplinas eixo” onde o aluno terá disciplinas obrigatórias e será direcionado às outras de acordo com as escolhas e necessidades futuras. Porém, para o professor, o modelo atual no ensino médio deve ser revisado por apresentar algumas problemáticas.

“A grade curricular do ensino médio é muito extensa, o aluno tem que dar conta de um conteúdo imenso de todas disciplinas. O aluno não consegue se aprofundar em muitas delas, então vai se tornando mediano e terminando o ensino médio às vezes com muito louvor em nota, mas sem ter lido clássicos, sem ter acesso a grandes obras”, afirma o professor.

Moacir avalia que as disciplinas devem trabalhar os eixos temáticos, mas não podem deixar de existir, ou serem colocadas em segundo plano, dado que fazem parte da formação acadêmica e humana. “Não é só uma questão do aluno passar no vestibular para alcançar a universidade, o processo educacional vai muito além disso.”

Para o professor é necessário reavaliar a quantidade de conteúdos nas disciplinas e trabalhar eixos temáticos, já que a forma prevista direciona o aluno para um determinado curso Com isso,  o aluno não irá se aprofundar nos conhecimentos destacando uma falha no processo de formação.

Gama destaca a importância de refletir sobre a grade curricular no que se refere a quantidade de conteúdo. No entanto, o novo ensino médio prioriza o tecnicismo e coloca em segundo plano disciplinas que refletem sobre a problemática brasileira, sociais e políticas. “Os professores da área de humanas dialogam com muito receio  a princípio o novo ensino médio apresenta retrocesso”, diz.

Ele avalia que a grade curricular pré definida geralmente é destinada a cursos de melhor remuneração. No entanto, a rede escolar, principalmente as públicas, não possuem estrutura abrangente para formatar o projeto, montar a grade e enfatizar a informação. “Inicialmente acho que não vai funcionar e a médio longo prazo representa o retrocesso no processo educacional, porque enfatiza disciplinas relacionadas à formação técnica e não intelectual e cidadã”, conclui.

*Estagiárias, sob a supervisão da editoria

Fonte: cadaminuto.com.br

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